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Sorte no jogo

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  Sorte no jogo Tiago da Costa           Os ponteiros do relógio marcavam quinze horas quando o inspetor de bilhetes soou o apito, anunciando a saída do trem, enquanto conferia o fechamento das portas dos vagões. A locomotiva começou a se mover sobre os trilhos, lançando uma fumaça negra que contrastava com o céu sem nuvens. Quem ficava na estação acenava em despedida para aqueles que partiam. Desviando-se de malas e passageiros, em um passo apressado, uma mulher cruzava a plataforma, olhando para trás a todo momento. Caminhava rápido, tentando achar um lugar para se esconder, antes que fosse alcançada por seus perseguidores. — Senhor, me ajuda, por favor! — pediu a um homem sentado em um banco de madeira cumprido. — Eles vão me pegar. O homem, que parecia aéreo em seus pensamentos, foi rápido na resposta. Abriu uma trouxa de pano, que carregava amarrada a um pedaço de pau, retirou dela um chale branco e entregou à jovem. — Vista isso e fique d...

Dívida antiga

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  Dívida antiga Tiago da Costa   — Um brinde à sua determinação e inteligência! — declarou levantando a taça de espumante, através da qual admirava o rosto sorridente de Anna. — Nada disso teria sido possível sem você, querida. — Foi o nosso esforço, meu bem — respondeu enquanto fechava a porta da geladeira e colocava a garrafa de água sobre a bancada da cozinha. — O plano era ambicioso demais. Nunca daria certo se não fôssemos nós dois, juntos, como está acontecendo. — Vejo as transferências sendo confirmadas e custo a acreditar. Olha só isso — disse deslumbrado, apontando a tela do notebook sobre a mesa, repleta de gráficos e números. — As operações ocorrendo simultaneamente, o dinheiro mudando de mãos debaixo dos olhos deles, e ninguém se dando conta de nada. Acredito que concluímos a fase de testes, agora falta o golpe definitivo. A nossa vingança será esplendorosa! — Não é vingança, Victor — respondeu encarando o namorado. — É justiça; pelo meu pai e por todas as famílias...

A coroa de sangue e prata

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  A coroa de sangue e prata Tiago da Costa   Alice  acordou assustada com o som da chuva. Foi até a janela do quarto e observou do segundo andar a enchente que se formava. Sentiu medo. Os canais de previsão do tempo haviam preparado a população para a chegada do temporal daquela noite, mas ainda assim o volume de água que caía do céu parecia maior do que o esperado. Ninguém conseguiria dormir. Um relâmpago iluminou o céu, revelando a formação ameaçadora das nuvens. Alice tapou os ouvidos, pressentindo o estrondo que estava por vir. Foi como canhões disparados da sala. A casa tremeu, objetos vibraram e, a julgar pelo barulho vindo do andar de cima, caixas caíram no sótão. Temendo pela conservação dos quadros que pintava, a garota saiu do quarto, mas percebeu que a casa estava sem energia. Orientando-se apenas pela luz do luar e o clarão dos raios, baixou a escada que descia do teto e foi até o último andar. Seus quadros tinham caído, mas algo a mais lhe causava estra...

Mentiras e esmeraldas

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  Mentiras e esmeraldas Tiago da Costa   Houve um momento em que a calmaria do oceano se tornou mais desafiadora que o rigor das tempestades. A tensão que precedia as batalhas, bem como a movimentação frenética de cada pirata para controlar a embarcação durante os temporais, deram lugar a uma quietude insuportável. Já fazia duas semanas que o Leviatã II navegava, sem direção, sobre um mar de ondas fracas, após zarpar da Ilha de Sal. O céu limpo, o vento suave e a equivocada rota de regresso para o continente construíram um cenário de tédio que, para a tripulação, poderia ser mais fatal que uma luta de espadas. Há dois meses, quando partiram em busca de cobiçadas esmeraldas, ninguém poderia imaginar que o maior desafio da expedição seria, justamente, a volta para casa. Depois de semanas navegando por mares revoltos, o imponente galeão pirata, conduzido por quase cem homens e armado com trinta canhões, finalmente atracara no seu destino, a Ilha de Sal. O local, conh...

A noite que não terminou

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  A noite que não terminou Tiago da Costa   Os estalos da lenha queimando e o borbulhar da água fervente nos caldeirões eram tudo que se ouvia no laboratório. Entre frascos de vidro e recipientes de metal, Alina se debruçava sobre suas anotações, tentando compreender o efeito de algumas ervas na cura de uma nova febre que atormentava os moradores do vilarejo. — Professora Alina — um jovem de roupas velhas e olhar curioso interrompeu a estudiosa —, Bogdan está convocando todos para uma reunião. A mulher clara, de olhos puxados e semblante sério, passou as mãos sobre o rosto, abaixou a cabeça e pensou o quanto era inconveniente a realização de um encontro no exato momento em que, todos sabiam, ela estava empenhada na realização de um importante experimento. — Bogdan nunca pode esperar, não é verdade? — falou para si, depois de pegar o casaco cinza sobre a cadeira e amarrar os longos cabelos brancos. — Irei em um minuto. Colocou um cachecol para enfrentar os quatro graus qu...